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Algumas reflexões sobre a ansiedade

  • Foto do escritor: Dayanne de Souza
    Dayanne de Souza
  • 10 de jun.
  • 3 min de leitura

Mulher de costas angustiada

Como visto, a ansiedade é algo biológico e benéfico para o ser humano.  A amígdala avalia ameaças potenciais e desencadeia respostas emocionais, disparando para o corpo uma mensagem de perigo, fazendo com que ele fique em alerta, preparado para uma resposta rápida de luta e fuga. Esse alerta corporal é importante caso a sobrevivência está em risco, como, por exemplo, um carro vindo em alta velocidade em sua direção ou se um cachorro está pronto para atacar. Essa reação biológica encurta o tempo de decisão, deixando o corpo “no automático” e retirando o raciocínio.

No caso do ser humano moderno, longe dos perigos da selva, há uma terceira opção que é o impasse, não há luta nem fuga, não enfrenta a situação nem sai dela. Essa situação é a que mais provoca distúrbios de ansiedade. Muitas pessoas se encontram nessa posição de escolha, não estão satisfeitas no emprego, mas não procuram outro; não sabem se terminam ou não o relacionamento; querem fazer curso e viajar; se propõem muitas atividades e ficam com poucas horas do dia e ficam na dúvida se descansam ou procuram mais coisas para fazer.

Essas situações são complicadas de resolver, uma vez que implicam em perdas, desconforto e até luto. Contudo, o impasse, a falta de ação de enfrentar ou sair da situação, pode causar muita ansiedade.

E por que muitas vezes ficamos no impasse? Há vários motivos pessoais para continuar em uma relação amorosa, no emprego, no curso ou tendo a mesma atitude. Além disso, há cobranças internas e externas para manter um comportamento ativo e eficaz. Mas, de modo geral, podemos dizer que o ser humano procura a homeostase, não gostamos de gastar energia. A sensação de familiaridade, previsibilidade e continuidade nos protege do medo da falta de controle. A perda dessas sensações pode ser muito ansiogênica, por requerer mudanças e adaptações. Para muitos, isso é extremamente angustiante, então, empurrar com a barriga o que se precisa decidir acaba sendo a alternativa mais confortável.

Cabe lembrar que não estou fazendo nenhum juízo de valor, cada um tem seu tempo e sua maneira de viver a vida. Não há certo ou errado. Porém, na tentativa de continuar no que é familiar, tendemos a querer controlar, para nos proteger desse mundo instável e não confiável, queremos evitar situações novas, para as quais não temos preparo. Essa tentativa de controle também é a causa de muita ansiedade, pois não temos o controle do mundo, do tempo, da morte e de diversas coisas que nos acometem. Por isso, o controle não é a saída para a ansiedade. A receita não é “controlar para não ser controlado”, talvez a saída seja “desejar para não ser controlado (a) por sua mente”.

Desejar não significa querer comprar carros, casas, objetos, não é algo material, apesar de passar pelos bens materiais. O desejo a que aqui referido é uma posição de buscar o que quer, sendo você. Como disse o Mario Sérgio Cortella, fazendo o seu melhor na condição que você tem. Entendendo que não se pode controlar tudo, logo o que lhe resta é procurar o que deseja sendo você mesma(o). É querer algo e ir em busca, sabendo que pode não acontecer da forma como previu, nem no momento que deseja. O querer toma o lugar do controle. Assim você vai desejando e se ajustando aos eventos inusitados.

Entender que as coisas têm um tempo próprio que, às vezes, independe de uma atitude nossa, também pode auxiliar na redução da ansiedade. Não importa o que façamos, a árvore tem um tempo para crescer, a chuva o momento para cair, a gestação deve ter o tempo necessário para a concepção, o sucesso precisa daquele tempo para consolidar, os projetos não são realizados em apenas um dia. Assim como as demais coisas do dia a dia, para adquirir bens materiais, estruturar uma empresa, ter estabilidade na carreira, aprender algo novo, aprimorar uma técnica, consolidar as ideias ou adquirir maturidade, é preciso entender que não acontece de modo instantâneo, tudo é um processo.

Uma coisa que se deve ter em mente é que “sou apenas humano(a)”, não adianta cobrar e querer tudo para ontem, isso não vai acontecer. Porém, não quer dizer que você fracassou por não conseguir ser, ou dar, 100% em tudo. Um celular que tem sua quantidade de energia limitada não é cobrado mais do que sua capacidade. Entendemos os limites de muitas coisas, mas desconhecemos os nossos.


Então, recapitulando dois pontos importantes:


  • Primeiro, talvez uma forma de amenizar a ansiedade seja aprender a levar a vida com mais calma, paciência, entendendo que tudo tem o seu tempo, e que ficar preocupado (a) com o que vai acontecer não fará com que não aconteça. A sua preocupação também não mudará o rumo dos acontecimentos.

  • Segundo, se manter na posição desejante será mais eficaz do que tentar controlar tudo e todos, afinal, muita coisa escapa do nosso controle.

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